Coerência...

Em todo o elogio fúnebre a Álvaro Cunhal, esta foi a palavra mais pronunciada e considerada. Supostamente funcionaria como um elogio: para os seus discípulos e camaradas significava a não cedência a outros valores que não os marxistas-leninistas, ao comunismo na sua forma mais ortodoxa; aos que não concordavam com as suas ideias políticas foi uma maneira de se escaparem ao elogio fútil que todos os ilustres mortos despertam.

Para mim, que nunca concordei com o seu ideal comunista e muito menos com o Portugal que Cunhal preconizava, coerência soa a teimosia, a inflexão. Sou muito novo para compreender toda a dimensão do “mito” Cunhal, mas sempre ouvi dos meus pais, professores, dos relatos, do que li, o papel preponderante que Cunhal teve no pré-25 de Abril, na luta contra o fascismo, na restauração da liberdade, na implementação dos direitos para os trabalhadores, da lei do divórcio, etc. Mas o que me causa e causava desconforto era a implementação do comunismo em Portugal, algo contra o qual sempre fui.

Para mim, coerência não pode ser elogioso. Alguém que não evolui, que não admite que possa estar errado (vide ex-URSS), que não se adapta aos novos tempos, embora mantendo os valores, não pode ser elogiado por isso. Agora se coerência é apenas para o diferenciar de outros que mudaram de partido, de ideologia, de missão, então louve-se-lhe a coerência!